quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Programa Mais Médico, mais uma ideia de jerico

  VALATER CAMPANATO/ABr/30.7.2013
Brasília - Médicos protestam contra o programa Mais Médicos. Eles pedem 10% da receita bruta da União para o setor de saúde, como previa o projeto que regulamentou a Emenda 29 e que foi vetado pela presidente Dilma







Depois que o povo foi para as ruas em junho e a popularidade da presidente Dilma Rousseff despencou, ameaçando sua reeleição, o núcleo duro de plantão no Palácio do Planalto despirocou.
Como os atuais governantes têm apenas um projeto de poder e não de gestão da coisa pública, a primeira proposta foi de uma Constituinte específica para se fazer uma reforma política. No dia seguinte, mudaram de ideia e lançaram uma reforma política com plebiscito. Vazias, as duas propostas não deram em nada.

O tema atual é o dos médicos. A velha estratégia é colocar a opinião pública contra os médicos. Nós, do governo, somos os bons, queremos Mais Médicos. Eles, os médicos, são os bandidos, não querem ir para o interior nem para a periferia das grandes cidades.

Após dez anos no poder, de repente, por causa das eleições do ano que vem, a administração Dilma resolveu que o atendimento médico era para ontem.

De repente, aumentaram o curso de Medicina de seis para oito anos, sendo os dois últimos, a título de residência médica, obrigatoriamente feito nos postos de saúde do interior, onde não existem outros médicos. Nem parece que o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, é médico, formado pela Unicamp. Será que ele acha que, no interior, os estudantes de medicina terão condições de fazer residência de oftalmologia, cirurgia, anestesiologia, cardiologia, dermatologia, neurologia, dentre outras especialidades?

Para quem não sabe, na residência o médico recém-formado é acompanhado por um preceptor, que é um médico mais experiente, com especialização na área. Se nos grotões sequer tem médico no posto de saúde, como encontrar um para orientar a residência?

A proposta é furada, é demagógica, é eleitoral, é para jogar a população contra os médicos. Na residência, os médicos dedicam de 80% a 90% do tempo para a prática. O residente de cirurgia vive dentro do bloco cirúrgico. Será que nos povoados sem médico existe bloco cirúrgico para a prática do residente?

Nesta semana, após a greve dos médicos de 48 horas, o governo desistiu de ampliar, de seis para oito anos, a graduação de medicina. A nova proposta da gestão Dilma Rousseff é que a medida seja substituída por uma residência médica obrigatória no SUS, feita após a graduação, a partir de 2018. A ideia é que o primeiro ano da especialização seja feito na atenção básica e emergência, como postos de saúde e prontos socorros.

Mais uma ideia de jerico.

É preciso um pouco de atenção por parte da população. No interior tem soldado, sargento, delegado de polícia, promotor, juiz e fiscal da receita.

Por quê?

Porque todos eles foram aprovados em concursos públicos e têm uma carreira de Estado.

Hoje, um médico no interior, depende da boa vontade do prefeito para receber seu salário em dia. O médico não tem estabilidade para formar família e criar laços na pequena localidade. Isto para não falar que não tem carteira assinada, FGTS, INSS e 13º salário.

Com um amplo concurso público, o SUS teria uma carreira de médico, com regras definidas, sem influência do prefeito ou do secretário municipal de Saúde.

Neste concurso, poderiam participar médicos brasileiros e estrangeiros (desde que estes tenham passado na prova de revalidação do diploma).

Este seria o primeiro passo para colocar médicos no interior, com estabilidade trabalhista. Com o tempo, este médico poderia até ser promovido para a capital, a exemplo do que acontece com o juiz e o delegado. A carreira teria regras, um plano de cargos e salários.
Por que o governo federal e o SUS não fazem um amplo concurso público para preencher todas as vagas abertas pelo território brasileiro, até com salários maiores para quem postular um posto na Amazônia ou na zona de fronteira?
Desta forma, estariam trabalhando para resolver o problema da falta de médicos, não com os olhos voltados apenas para as eleições de 2014.

Nenhum comentário:

Postar um comentário